Gerais

Cidade do Sul de Minas busca em Congonhas expertise para cuidar de sua história

27/01/2017

O prefeito da cidade de Congonhas, Zelinho, recebeu em seu gabinete nessa semana uma comitiva da cidade cidade sul mineira de Santana do Jacaré, com o Prefeito, Aleiris Soares Viana, o Consultor em Gestão Pública, Daniel Viafora, e o responsável pelo Departamento de Cultura, Gilmar Ribeiro de Melo.

Esta comitiva fez uma visita de cortesia ao prefeito, sendo que já estiveram reunidos anteriormente com a equipe da prefeitura que zela pelo patrimônio histórico. Eles escolheram Congonhas devido a todos os avanços alcançados pelo Município através de um ótimo relacionamento com órgãos nacionais e internacionais e até com a iniciativa privada, que possibilitaram conservar seus sítios históricos, manter sua rica cultura popular e dar a tudo isso a merecida dimensão através da criação do Museu de Congonhas.

A comitiva recebeu informações sobre o procedimento para que Santana do Jacaré desenvolva ações na área da cultura, com destaque para o patrimônio histórico material e imaterial. A secretária executiva da Associação das Cidades Históricas, com escritório em Congonhas, Ana Alcântara, encorajou o Governo daquela cidade a seguir os trâmites necessários para que se filie à entidade, a exemplo do que ocorrerá em breve com a cidade de Oliveira, localizada no Centro-Oeste do estado.

O diretor de Patrimônio Histórico de Congonhas, Luciomar Sebastião de Jesus, e sua equipe, também apontaram os procedimentos para que Santana preserve melhor seus bens materiais e sua memória.

As visitas em Congonhas iniciaram pela Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, que atualmente passa por obras do PAC Cidades Históricas, seguiu pela Igreja do Rosário, onde os elementos artísticos já foram restaurados igualmente através do PAC CH, e pelo Santuário,  outro beneficiário do programa, graças a um trabalho de planejamento e execução da Prefeitura de Congonhas.

 

“Congonhas é referência para todo o Brasil, e porque não dizer para boa parte do mundo, quando o assunto é a preservação de seus bens tombados. Estamos aqui humildemente para tirar proveito desta expertise toda, o que é facilitado por este acolhimento maravilhoso, impagável que tivemos. Em contrapartida, pudemos mostrar um pouco do que nossa cidade, de apenas 5 mil habitantes, tem a oferecer. Agradecemos ao prefeito e sua equipe pela acolhida. Vamos precisar muito de Congonhas ainda, e também nos colocamos à disposição”, disse o prefeito Aleires.

O secretário de Cultura, Gilmar Ribeiro de Melo, vibrou com a análise inicial de fotos de imagens que se encontram nas igrejas de Santana. “Já estamos inscritos no ICMS Cultural, mas precisamos constituir nosso Conselho Municipal de Cultura, para nos habilitarmos a receber verbas. Outro passo importante será conseguir o tombamento de pelo menos uma de nossas igrejas pelo Iepha, que nos trará benefícios diretos e indiretos, como podermos nos filiar à Associação das Cidades Históricas de Minas Gerais. Vir a Congonhas foi decisivo para clarear nossos horizontes. Segundo o Luciomar, só de ver as fotos, os santos de nossas igrejas possuem a chancela de grandes artistas contemporâneos de Aleijadinho. Isso nos animou muito. Também estamos localizados no que um dia foi chamado de “descaminhos”, que era por onde quem queria fugir do fisco da Coroa passava vindo ou indo para Goiás. A exemplo de Congonhas, temos festas religiosas e profanas de grande apelo. Além do mais, um padre de lá era de Congonhas e o médico mais antigo daqui nasceu em Santana, que é o Dr. Freire. Já somos cidades irmãs”, comentou o secretário de Cultura, Gilmar Ribeiro de Melo.

Diferenciais de Santana do Jacaré

Santana do Jacaré é a única cidade do Brasil a realizar a encenação da pesca da imagem de Nossa Senhora Aparecida, sempre à noite com o rio Jacaré iluminado por velas colocadas em cabaças que descem por seu leito. Esta é uma referência ao fato ocorrido em 1717 no rio Paraíba do Sul, no Vale do Paraíba paulista, quando dois pescadores puxaram em suas redes a imagem da santa, depois do que a pescaria tornou-se farta. A história deu origem à devoção a N. Sra. Aparecida. A Celebração em Santana ocorre entre os dias 10, 11 e 12 de outubro, diante de um público que toma as duas margens do rio, sendo uma delas do lado de Campo Belo. A exemplo do Jubileu do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, por ocasião da “Festa do dia 12” são realizadas missas no Santuário local, procissões inclusive da imagem em carro de boi e romarias que partem de várias cidades vizinhas e até mais distantes.

Além disso, a cidade realiza, durante o domingo, a segunda e a terça-feira de Carnaval a já centenária Cavalhada. Em Santana, esta revive a luta entre mouros e cristãos, ocorrida na península ibérica na Idade Média. Após a encenação de várias “carreiras”, todas batizadas com um nome, acontece a “tirada da bandeira”. Então, cada cavaleiro é sorteado e, montado no cavalo, precisa partir em alta velocidade com uma lança ponteaguda e tirar uma pequena bandeira do Brasil enrolada, cheia de confetes, amarrada a uma argola, que por sua vez fica presa a um arame esticado por dois mastros, lembrando um gol de futebol mais estreio e mais alto. Quando o cavaleiro “tira a bandeira”, o que ocorre somente uma vez por dia, toca-se o hino nacional, soltam-se fotos, todos os demais seguem o vencedor em acelerados galopes e o público vai ao delírio. Pessoas espetam notas de reais com alfinetes na bandeira, como reconhecimento ao feito do cavaleiro.

Como bens materiais cabíveis de tombamento, Santana do Jacaré possui, além do recém construído Santuário de Nossa Senhora Aparecida, a Matriz de Nossa Senhora Santana, que surgiu da capela erguida pelos fundadores da cidade, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, que foi fundada pelos escravos, as praças que as rodeiam, o primeiro cemitério secular de Minas Gerais, ruínas e artefatos encontrados em fazendas, além de vários outros elementos da oralidade, das artes e do folclore locais. Também escultor reconhecido Brasil afora, com trabalhos realizados inclusive para os Correios e a Rede Globo de Televisão, Luciomar Sebastião de Jesus está para aceitar o desafio de esculpir um jacaré para a praça central de Santana do Jacaré, que substituirá o de verdade que ficava em um local preparado especialmente para ele até o final da década de 1990.