24/10/2018
Estava eu em uma viagem e, como de costume, no primeiro banco do ônibus. Ali eu contemplava a paisagem e refletia tantas coisas que passavam em minha mente, quando o ônibus se aproximou de um caminhão de pequeno porte. Observei que no para-choque daquele veículo havia uma frase: “Não procupa, filhinha, Papai vai voltar”. Percebi que tanto o motorista como o cobrador comentavam sobre aquela frase. Também comecei a refletir sobre ela.
Que mensagem comovente, pensava eu, um pai, saindo para trabalhar, dirigia a sua filha dizendo que voltará. Provavelmente, a filha sempre o perguntava: “Papai, o senhor volta né?” e ele respondia afetuosamente: “Não procupa, filhinha, Papai vai voltar”. E pegava a estrada com os olhos banhados em lágrimas pedindo a Deus que o trouxesse para junto de sua família após o trabalho. Assim respondia tantas vezes até ter a ideia de colocar no para-choque de seu caminhão. Que gesto de amor, refletia eu. Foi quando percebi que não era desse modo que o motorista e o cobrador estavam pensando, pois um dizia para o outro: “como pode este caminhoneiro colocar um erro desse no para-choque? Será que ele não percebeu? Ainda por cima parece que as letras foram feitas em uma gráfica, será que ninguém notou a falha? Eu teria vergonha de ter um erro assim no para-choque de meu carro”. Foi então que me detive ao erro que havia na grafia do verbo preocupar, mesmo o tendo percebido anteriormente. Mas o que era aquele erro frente ao sentido da frase? Talvez o pai colocou aquilo ali porque a filha ainda estava aprendendo a falar e proferia tal verbo daquela forma. Percebi naquela simples constatação do motorista e do cobrador como há pessoas que preferem deter-se aos limites do que a algo que é muito maior e melhor, estão mais na superficialidade a uma profundidade existencial... São mais regras que misericórdia, mais normas do que amor.
Gramaticalmente a frase estava errada, mas isso não reduz o seu valor. Mesmo com todo o conhecimento possível de nada adianta se não tenho amor e isso confirma São Paulo: se não tivesse amor, eu nada seria (cf. 1Cor 13). Concluí: faltam a muitos a sensibilidade! Falta-lhes o amor!
Emanuel Tadeu é um poeta, neste instante do existir, buscando no simples o extraordinário que se manifesta. Natural da pequena Rio Espera, de uma singela família. É Seminarista da Arquidiocese de Mariana e Bacharel em filosofia pela Faculdade Dom Luciano Mendes.