Materiais nocivos se descartados na natureza ganham vida e beleza pelas mãos de um artista congonhense
13/06/2019
Será inaugurada no próximo domingo, dia 16 de junho, a Exposição “Meus Animais – A Magia da Transformação”, assinada pelo artista congonhense, Hernando Rocha Vitor. Belas esculturas móveis de animais silvestres surgem do reaproveitamento de material reciclável, ao que o artista denomina “reciclarte”. Na entrevista a seguir, Hernando dá um grande exemplo de como é possível criar algo novo, sem provocar danos à natureza. A atração concluirá as comemorações pelo Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho). Este ano, diversas atividades compuseram a Segunda Mostra de Sustentabilidade, que apresentou temas relacionados à qualidade do ar e destinação adequada de resíduos.
Como surgiu a ideia de recriar bichos?
Sempre quis ter esses animais, mas por vários motivos não tenho nenhum. Primeiro porque acho que os animais silvestres, quando tentamos domesticar, ficam muito perdidos, porque não são domesticáveis, ao contrário de cão e gato. Por gostar demais deles, pensei em uma forma de substituir os vivos pelas esculturas. Por volta de 2010, abri o Festival de Inverno com uma exposição de insetos desenhados em tamanho real em 3D. Em seguida, criei uma exposição de aves e depois partir para outros animais silvestres. A partir daí pessoas começaram a me chamar para me apresentar em alguns lugares. Atualmente já criei dez esculturas móveis, porque algumas delas podem ser movimentadas e possibilita posições diferentes.
Por que utilizar material reciclável na criação das esculturas?
O que é resto pode ser transformado em algo interessante. Muitas vezes, quando é utilizada a reciclagem, percebe-se o que foi utilizado. No meu caso, gosto que não fiquem vestígios dos materiais utilizados, como massa, pena, pintura, tecido, plástico, cerâmica plástica imitando a pele, biscuit, tecido de guarda-chuva, sacola plástica, arame, etc.
Qual é seu processo de criação?
Estudei cada animal pelo comportamento, tamanho, etc e fui produzindo cada um deles. Como comecei com as aves, fui ao Mercado Central de Belo Horizonte, comecei a formar um banco de penas com tipos, tamanhos e cores variadas, para reproduzir o bicho através das penas. Ao mesmo tempo, comecei a estudar processo de pintura das penas para adaptação a cada ave. Consegui de pato, peru, faisão, pombos. Em alguns casos, tinha de recorrer à adaptação mesmo, utilizando, entre outros materiais, mouse, fones de ouvido e fios. No processo de pintura, a gente já vai vendo o bichinho surgir.
Que curiosidades aconteceram durante a confecção desses bichos?
No caso de uma espécie raríssima, a Anacã, um papagaio da Amazônia, tive a triste sorte de encontrar pessoas que criavam indivíduos desta espécie e que morriam. Depois, fiz uma tartaruga com um vidro de alvejante e fui imaginando no recipiente a forma de cortar e transformá-lo nos cascos dela, que se chama Baldo e é minha garota-propaganda, já tendo participado da Semana do Meio Ambiente na Fundação CSN em 2018. A gatinha sem pelo Sphynx, é bem intrigante: uns adoram, outros a acham um espanto. A serpente seria pequena e albina, mas vi uma mangueira de instalação elétrica velha e imaginei a pose exata e passei um arame por dentro, depois foi preencher com massa, estudei muito até chegar no resultado interessante. O esquilo negro raro que aguardou um ano por um tecido que aproximasse do pelo dele. Estou estudando a anatomia, comportamento e tudo do mico estrela para que consiga montá-lo a tempo da exposição, mas está difícil encontrar o tecido de pelúcia específico. Então percebi que estava recriando animais exóticos.
De tanto recriar animais, é de se imaginar que você tentar ver o mundo da mesma forma que esses bichos vivos o fazem na natureza, não é?
A gente aprende muito com os bichos, gosto muito de ver o Animal Planet [cana de TV que exibe documentários]. O comportamento dos animais irracionais serve de exemplo para os racionais. Fico pensando se algum dia a humanidade vai se completar de verdade. A tecnologia têm a proposta de trazer a evolução. Porém estamos presos em questões de comportamento, que parecem não evoluir. Já o animal irracional demonstra uma noção das coisas que nós não temos. Esses documentários de TV fazem sucesso porque parecem nos complementar de alguma forma. Por isso que quero cada vez mais estar perto dos animais.
A exposição estará aberta ao público até 30 de junho, de segunda à sexta, de 8 às 18hs, e finais de semana e feriados de 8 às 14h, no Prédio Espaço JK, que abriga a Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura.
Fotos: Mauro Fernandes Barros
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