Por Ingrid Lopes Kelmer - Baseado em um fato real.
27/12/2021
Tarde de verão, típica de rotina voltávamos da escola, tagarelando no carro como de costume,um entardecer leve,fresco e bonito. Virei a última esquina antes de nossa casa, faltava uns cem metros antes do nosso portão, parei o carro e cumprimentei a nova vizinha que passeava com seu bebê no frescor da tarde, conversávamos da janela do carro mesmo, antes de adentrar na nossa garagem, durante a nossa rápida conversa maternal, de repente algo bateu no vidro dianteiro do carro bem na minha direção, todos assustaram,era uma carta dobrada que caiu do céu literalmente, veio voando do céu, porque naquele momento nem ventava. Desci do carro,peguei a carta que se encontrava no asfalto, ainda dobrada escrito para o querido Papai Noel.
Eu comentei com a vizinha: -Era para mim,mesmo, amanhã já iríamos no correio escolher cartas desse ano.
Ela com uma interrogação na expressão facial ficou sem entender nada.
Minha filha ainda comentou: - Que bom mamãe,quero ler,mas o que será que está escrito, eu até achei que fosse um passarinho.
Despedi na vizinha e fomos para casa, antes de descermos do carro ,ali na garagem mesmo li a carta em voz alta.
Na carta havia o pedido de um garotinho de 11 anos relatando que a família não tem condições financeiras,e pedindo ao Papai Noel que esse ano fosse melhor seu Natal e de sua família e que gostaria de realizar seu sonho: ganhar uma mochila escolar nova, com uma letra redondamente perfeita,ele relatava também que tem dois irmãos mais novos, se fosse possível uma boneca para irmã e carrinho para o irmão... abaixo da carta, desejava bençãos e um forte abraço ao papai noel e um agradecimento profundo mesmo sem saber se seria atendido.
Finalizei a mesma com lágrimas nos olhos e um nó na garganta...
Como diz um antigo ditado :o que cai em suas mãos ou bate na sua porta, você não deve negar. Porque é Deus aclamando sua ação positiva diante o irmão necessitado.
Com carinho compramos e montamos um kit escolar para ele, juntamente com a boneca, o carrinho e algumas guloseimas para a família.
Na véspera de Natal, faltando um dia levamos com entusiasmo em um bairro periférico da nossa cidade,um subúrbio bem afastado da região central e muito mais distante de onde moramos. Mas fomos na esperança de encontrar a casa do endereço confuso da carta, encontramos as crianças brincando na rua juntamente à outras,com uma liberdade que quase não deparamos no mundo atual, olhos brilhantes de adrenalina e curiosidade, o carro de repente ficou protegido ao redor com aquelas inocentes criaturas,semblantes de curiosidades e alerta.
No local minha filha de 5 anos com um gorro vermelho,foi entregar a surpresa para o garoto,que mora com sua avó e irmãos em um barracão de telhas remendadas à beira da rua,ele que ficou surpreendido com nossa chegada.Entregou, deu um abraço desejou um Feliz e abençoado Natal,viemos embora todos reflexivos com tal realidade.
Passaram-se quase dois anos,esse ano pandêmico, fomos surpreendidos com uma senhora aparentemente 60 anos, no sinal de trânsito vendendo balas de goma,por simplesmente 0,50 centavos,e com sua camisa de sua Santa devota com olhar de Piedade e esperança de conseguir vender toda a pequena caixa.Como sempre ajudamos,sem o interesse na bala, com um valor muito acima do que ela solicitava, a mesma ficou surpresa e agradeceu com lágrimas nos olhos,só faltando pular de emoção,e dizendo que o gás do mês estava garantido ,porque tinha netos para alimentar…
Passaram três dias,encontrei com a mesma,na esquina de uma calçada,após sair de uma consulta,me ofertando balas, com minha curiosidade aguçada como sempre,sondei a mesma porque usava a mesma blusa,ela relatou que tem muita fé e precisava de dinheiro para cuidar dos netos,me relatando sua atual situação e os problemas que enfrentava,inclusive se curando de uma profunda depressão, conversa vai e vem... e descobri que a mesma,é a avó das crianças que ajudamos naquele natal de 2019, eu não acreditei quando ela me passou seu endereço, porque pretendia levar uma cesta básica em sua humilde casa, ela lembrou de nós, do carro chegando em sua casa, e relatou que o neto ficou muito feliz, agradeceu novamente pela doação.
Seria uma ironia do destino??? Prefiro acreditar nos planos e permissões de Deus em nossas vidas, colocar pessoas certas em nosso caminho para nos ensinar que temos "tudo" sem merecermos, ou às vezes muitas coisas,até sem precisar...ou até sem necessidade.
Enquanto muitos querem simplesmente matar a fome ou,o básico e digno que todo ser humano precisa para sobreviver.
Não vamos mudar o mundo, mas podemos mudar o mundo de alguém com pequenas ações como uma simples conversa, alimentar a esperança com palavras positivas, despertar a fé …
O pouco se torna muito, quando oferecido com amor,sem esperar recompensas.
Que o Natal seja sempre na essência de amor,partilha e REnascimento de bons sentimentos e que a gratidão e fé permaneça em todos os dias do ano.
Feliz Natal e um 2022 de mais amor…
Ingrid Lopes kelmer
Natal de 2019