Cultura

Espetáculo emociona ao iniciar comemorações dos 260 anos de devoção ao Bom Jesus em Congonhas

19/01/2017

O início das festividades pelos 260 anos de devoção ao Senhor Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas contou com a apresentação musical com apenas piano e voz, concisa e em estado puro, com canções muitas delas de domínio público do interior de Minas, como as que são cantadas em festas e outras ocasiões no Vale do Jequetinhonha e de compositores consagrados.

Centenas de congonhenses e visitantes prestigiaram o evento em uma noite de céu estrelado. O concerto do compositor e pianista Túlio Mourão e da cantora Titane, realizado em frente à Basílica, nessa quarta-feira, 18, foi também o lançamento do álbum “Paixão e Fé”, gravado em novembro na Romaria, e que reúne estas canções em uma ode contemporânea aos profetas de aleijadinho e, ao mesmo tempo, busca voltar os olhos de todos para as castigadas cidades reféns, segundo os dois artistas, do  “modo errado de minerar”. Uma vasta programação lembrará durante todo o ano o início da construção do Santuário pelo ermitão Feliciano Mendes em 1757.

O álbum “Paixão e Fé” traduz em forma de música a perplexidade, indignação e inconformismo do povo brasileiro sobre a violência contra comunidades e minorias. O repertório do espetáculo mostrou autores mineiros como Milton Nascimento, algumas vezes em parceria com o próprio Túlio Mourão, Tavinho Moura, Fernando Brant, Chico César e José Miguel Wisnik, algumas delas conhecidas do grande público e outras que eram inéditas para a maioria. De Milton Nascimento e Fernando Brant, “Ponta de Areia” diz respeito à violência contra uma cidade que perdeu os trilhos do trem de ferro quando da construção da estrada rodoviária Minas-Bahia; dos mesmos autores, “Promessas do Sol”, aborda o preconceito da chamada civilização moderna para com os povos indígenas; de Milton e Ruy Gerra, “E Daí”; “Paixão e Fé”, que dá nome ao disco, de Tavinho Moura e Fernando Brant; além de “Anoitecer”, poema de Carlos Drummond de Andrade, que bradava contra a perda das montanhas de Itabira, musicado por José Miguel Wisnik;   e músicas do cancioneiro popular como "Danguê", "Folia dos Pretos", "Louvor de Anjo", bem típicas do interior das Minas Gerais.

Titane possui uma relação antiga com o Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, onde se apresentou, nessa quarta. “Este (o conjunto histórico, arquitetônico e artístico de Congonhas) é um patrimônio do Mundo, pra nós todos, portanto agradecemos à população da cidade por ser guardiã disso tudo. Venho aqui desde os 5 anos, me lembro que ficava correndo entre os profetas e não queria sair do meio deles. Tenho uma visão muito iluminada, confortante das horas que passei aqui. Muito depois, aluna do Klauss Vianna (bailarino e coreógrafo brasileiro),  ele dava aulas e mais aulas de preparação corporal se remetendo aos profetas do Aleijadinho e à beleza desse bailado. É a visão de um artista que falava para outros de um mundo todo sobre a importância da obra de Aleijadinho e o quanto ele inspirava outras artes, como a dança, a música, não só a escultura. Então estar aqui me deixa gratificada. É um presente para mim e para o Túlio. Estamos aqui com muito amor para apresentar a nossa música”.

 

Túlio Mourão diz que o disco tem a dupla função de valorizar e proteger os bens artísticos e naturais de Congonhas, como de Minas. “Este projeto é muito especial pra gente e de certa forma ele traz o reconhecimento dos músicos de Minas Gerais, de uma forma muito bonita, à dimensão universal do patrimônio cultural, da arte que Congonhas tem e também nós viemos somar nossas vozes às outras que estão empenhada a defender esse patrimônio, assim como o valioso patrimônio da nossa água, das nossas montanhas, da nossa qualidade de vida, da nossa beleza, enfim, desse ambiente que suporta e é a base dessa e de outras cidades”.

Sobre a motivação que levou dos dois artistas a escolherem Congonhas como tema e local da gravação de um álbum, Titane diz que “a escolha se deu por vários motivos, sendo que o principal é a existência do Museu de Congonhas, que é capaz de envolver artistas do Brasil todo em torno da Obra de Aleijadinho e outros artistas contemporâneos dele. Este museu tem cumprido um papel muito importante para Minas e o Brasil ao criar e propor vínculos entre outros patrimônios e o de Congonhas. Além dos profetas, o Museu faz ecoar as artes de Congonhas para o Mundo. Além disso, é sempre necessário pensar o futuro da cidade. E aqui se vê que está começando, através do trabalho de artistas e suas equipes, restauradores, que lidam com arte e ciência, costureiras, quitandeiras, entre tantos outros profissionais, um exercício que culminará com uma solução socioeconômica. As artes e a cultura são uma solução econômica também, sem a necessidade de ser predatória. O turista vem ao Santuário contemplar ‘Aleijadinho’, depois vai ao Museu e a seu teatro ver uma produção atual de músicos, e tudo movimenta recursos e dinheiro. E outro ponto positivo é a forma muito especial, carinhosa, de os congonhenses receberem quem é de fora”.

Sequência da programação

Eventos da cidade que se destacam em Minas e no Brasil, como a Semana Santa, o Festival da Quitanda e o próprio Jubileu, este realizado anualmente entre 07 e 14 de setembro, também lembrarão o início do cumprimento da promessa de Feliciano Mendes. Curado de grave doença, inicia, em 1757, a construção de uma capela onde coloca um oratório para o recolhimento de donativos destinados àquela obra.