09/10/2019
Me pego espiando. Na verdade toda a humanidade espia. Encontro-me entre duas árvores rasteiras. Elas estão delimitadas por um cercado em frangalhos. A alma se encontra também em frangalhos. Sou mesmo filho da revolta. Se me embalou uma luz da ribalta leia-se que era falsa e se persiste é falsa mesmo assim. Todas as coisas daqui, diga-se, são falsas. Vale trezentos reais a ilusão de que tudo vai muito bem. E tem quem diga isso rotineiramente! Na miséria do que devo espiar, percebo que aquele homem, que toda dia vai e todo dia vem, nunca vai saber da alma íntima de sua matéria. E não se renova nunca, eis que jamais admite ser cinzas na matéria que só pode vislumbrar. E simples cinzas, absolutamente entojada, na segunda e principalmente na sexta-feira. Em espiando sempre tenho que a maioria das almas deste lugar se encontra como que no centro de um corredor. Alguém me lembra e escreveu que são homens perdidos em labirintos de eternas preliminares e abusivas bagatelas. Nunca uma verdade minha, sua, dela ou de outrem. Somente a verdade deles. Nestas paragens, homem centrado e que vislumbra o caminho além um pouco dos trezentos reais, não bate na porta e jamais poderá abrir qualquer porta. E se for a porta dos sonhos, do passado, do que foi felicidade, é obtuso, e sua fala será um monólogo de teatro vazio.
Dr. Sílvio Lopes de Almeida Neto é um renomado advogado com 28 anos de atuação na área criminal. Ele adora defender seu semelhante e, além dessa bonita profissão, gosta de escrever crônicas nos momentos de lazer. Ele é casado com a rioesperense Drª Sara Miranda e reside na maravilhosa cidade de Rio Espera onde recebeu recentemente o título de cidadão honorário.