Colunista - Dr. Sílvio Lopes de Almeida Neto

A ESCRIVANINHA DO CANTO

Por Sílvio Lopes de Almeida Neto

05/03/2017

Seja bem-aventurado aquele que sabe e pode declinar de toda religião. Seja bem-aventurado aquele que sabe e pode declinar de toda a razão. Seja bem-aventurado aquele que tem cara de hidra, serpente, e não deseja a política. Seja bem-aventurado, de qualquer forma, aquele que escreve, adentrando a madrugada. Não se fale muita coisa de quem não ama seu cão, ou não pode.

Não se fale daquele que não sabe amar uma sombra. Sombras podem ser amadas a vida toda. Que não se faça um decálogo do que é material, visível e engana. O decálogo há de ser sobre o inefável. Que seja bem-aventurado aquele que não acredita em um mestre que escreve versos eneassilábicos. Se tem nove sílabas exatamente, pela mesma motivação pode estar falecido sem que saibamos. Aquele que tem vida azeitada é enfermiço e engana no palanque. É necessário adjetivar com mais intensidade. Adjetivar tudo. Que se escreva mais e mais, ainda que não se saiba aonde ir.

Que seja bem-aventurado quem marcha contra as sobras de escrituras. Algumas são sagradas (nem tanto assim), outras não. Sobre a escrivaninha com aprestos para escrever, ela é de jacarandá-preto e não tem tampo corrediço, existe a história contada por Freitas Cavalcanti, sua Profecia das Águas abençoando o bem-aventurado de toda fé cega e que nega qualquer possibilidade de entender a vida e a morte. Um escaninho especial está repleto de resistência. Que seja bem-aventurado quem ama a mulher alinhavada nas letras, com muita pressa ou não, ainda que não exista arte nisso tudo.

Horácio manda que o substantivo seja forte contra um adjetivo desavisado. Que seja bem-aventurado aquele que faça possível decifrar, caracterizar em detalhes ou acentuar qualquer coisa. Que seja, também, bem-aventurado aquele de razão curtíssima e verdade pouca. Que não se engane nunca o bem-aventurado, quanto ao mel silvestre que narcotiza.

 

Dr. Sílvio Lopes de Almeida Neto é um renomado advogado com vinte e cinco anos de atuação na área criminal. Ele adora defender seu semelhante e, além dessa bonita profissão, gosta de escrever crônicas nos momentos de lazer. Ele é casado com a rioesperense Drª Sara Miranda, reside na maravilhosa cidade de Rio Espera e é colunista em nosso portal de notícias.